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domingo, março 28, 2010

Difícil de acreditar.

A chuva caía naquela tarde de outono, Paráclito havia perdido o ônibus chegaria atrasado no seu primeiro dia de serviço. Como isto aconteceu? Ele acordou, se levantou, tomou banho, tomou café e quando estava se preparando para sair, olhou no relógio, 6h40min. ainda tinha tempo, pegaria o ônibus e chegaria no horário, mas para o seu azar tudo isto não passava de um sonho, acordou realmente as 7h00min. e tinha que fazer tudo o que supostamente já havia feito. Ao chegar no serviço o chefe o está esperando na porta:
- Como vai senhor Paráclito?
- Vou bem, Godofredo.
- Não preciso mencionar que está atrasado, não é mesmo?
- Não, não precisa, mas eu tenho uma idéia que fará você esquecer o atraso.
- É mesmo, vamos a ela.
- Que tal se as personagens passassem por uma situação de deja vú?
- Não sei se teria lógica, visto que estão pendurados a 700 metros de altitude.
- Mas aí é que está a pertinência da idéia, se eles tivessem um deja vú, talvez pudessem escapar de uma situação trágica.
- Claro, um lance igual do filme premonição.
- Sim.
- Paráclito, não esqueça que estamos gravando um comercial, não há tempo para deja vús
- Acho que se trabalharmos bem, poderemos encaixar esta situação.
- Está bem, então pode falar com os atores.
E assim foi feito, o comercial ficou um pouco enigmático, mas conseguiu transmitir a sua mensagem e um público mais atento e inteligente que comprou o produto de maneira até desordenada, o produto ficou conhecido como o produto dos gênios, apenas intelectuais os compravam. Paráclito era roteirista de comerciais com idéias as mais mirabolantes possíveis, era disputado por empresas de propaganda, com ele era garantia de venda, após aquela primeira idéia do primeiro dia. Subitamente ocorreu um incidente diplomático no país, o presidente mandou chamar o homem mais criativo da propaganda, Paráclito se apresentou no Itamaraty, sem saber ao certo porque havia sido chamado:
- Senhor Paráclito.
- Senhor Presidente.
- Pode me chamar de Raimundo.
- Raimundo, porque estou aqui?
- Vamos direto ao assunto, você está aqui para criar uma história plausível sobre o assassinato do embaixador de um país da oceania.
- Sei, o que houve de verdade?
- Ele foi confundido com um traficante, enquanto passeava pelo calçadão do Rio de Janeiro e foi assassinado a tiros.
- Quanto tempo eu tenho?
- A partir de agora?
- Sim?
- Cerca de 75 minutos.
- Puxa, vocês gostam de fazer as coisas em cima da hora, em?
- Chamamos você porque é criativo, uma vez que criar a sua versão, ela será confirmada até mesmo por testemunhas, a imprensa nos cobrou muito caro para não divulgar a informação.
- Quanto ao pagamento, o que eu vou receber?
- Se a história for aceita, o que quiser.
- Certo, eu consigo a história em uma hora, vou trabalhar aqui mesmo?
- Sim, voltamos em uma hora.
Esgotado o tempo:
- Senhor Paráclito.
- Raimundo, tenho uma história fantástica para ser confirmada pelas suas testemunhas, mas precisaremos plantar umas pistas aqui outras ali e também precisaremos de uma casa de prostituição, supondo que ele não seja muçulmano.
- Não ele não é.
- Ótimo, a história é simples, este embaixador queria conhecer umas brasileiras, como não queria perder tempo com jantares, flores e coisas do gênero, fez o que era mais fácil foi a uma casa de prostituição e para o seu azar pegou uma protituta ninfomaníaca que fez sexo com ele até ele morrer.
- O homem foi crivado de balas, como vão acreditar nesta versão?
- Bem, o marido desta ninfomaníaca, não sabia que ela trabalhava nesta função, descobriu toda a farsa e a pegou com o seu ilustre cliente no momento do ato libidinoso e não se conteve, sem saber que o era o embaixador e que o mesmo estava morto, o crivou de balas ainda na cama.
- Que história sensacional, um pouco fantasiosa, mas podemos tentar, obrigado senhor Paráclito.
Algumas horas mais tarde:
-Quando eu vou sair daqui, Dolores.
- O Presidente já está chegando.
O Presidente chega e toma a palavra:
- Para a nossa sorte, o Embaixador Jhivago tinha rompantes sexuais conhecidos em seu país, a comitiva não só acreditou na história como baixou um decreto que os embaixadores estão proibidos de frequentarem este tipo de estabelecimento em qualquer país que estejam. Parece que devemos algo a você Paráclito. O que você deseja?
- Disse que me daria o que quisesse.
- Sim, qualquer coisa.
- Eu quero saber a verdade sobre os extraterrestres no Brasil.
O Presidente fica um pouco desconfortável, faz um sinal e todos abandonam a sala:
- Paráclito, o que vou dizer a você, somente os presidentes dos países sabem, peço que você não divulgue esta informação nem sob tortura.
- Que tipo de homem acha que sou?
- Do tipo que salva seu país, sempre que necessário. A resposta é: Não existe extraterrestres, não existe espaço, o homem não viajou a Lua, tudo o que foi dito criado ou transmitido pela TV, foi mentira, a única coisa verdadeira disto tudo é a viagem no tempo, todas as formas de vida vistas, todos as abduções, todas as luzes são de máquinas do tempo do futuro, em sua grande maioria vinda do ano de 2897, quando o então cientista Filorgâmino de Guillermo inventou o que ele chamou de Partímeno, partícula capaz de evitar a transformação da matéria em energia, assim os visitantes do futuro estão entre nós para aprender com os seus erros e em alguns casos para terem aulas de história ao vivo.
Paráclito ainda boquiaberto diz:
- Com certeza não direi isto a ninguém, ninguém vai acreditar, eu mesmo não acredito.
- Então assista a este filme.
Um compartimento na parede se abre e uma TV do futuro noticia a grande descoberta de Filorgâmino Guillermo; o sujeito que apresenta o jornal é semelhante aos reticulinos vistos em abduçôes.
- Obrigado por ser sincero comigo senhor Presidente.
- Tenho que pedir a sua palavra quanto a não divulgar os fatos, sabe que isto pode provocar um pandemônio na população, além de nos obrigar a criar um nova história para rebater a sua.
- Não se preocupe senhor Presidente esta história vai morrer comigo.
No outro dia Paráclito não se sentiu a vontade para ir trabalhar ficou remoendo aquela história o dia todo, mas acordou novamente e desta vez no horário certo para o trabalho, novamente havia sonhado e vivido algo que realmente não aconteceu, era apenas o seu segundo dia de trabalho.

terça-feira, março 23, 2010

Rumos

Como saber qual a hora certa, Golias tinha um emprego de guarda municipal, estudava Direito, nas horas vagas fazia desenhos animados, todos diziam que ele era muito bom e que devia seguir carreira, mas não é necessário dizer que as contas não esperam a fama, nem o sucesso. Então surgiu algo inesperado, na verdade três coisas inesperadas. Uma revista em quadrinhos queria entrar no mercado e enviou uma proposta a Golias que poderia solucionar os seus problemas financeiros, mas como nada é tão perfeito, se a revista não vingasse, estaria sem emprego teria que começar de novo além de ter dificuldades em pagar a faculdade. A outra proposta era de um escritório de advocacia muito conceituado na cidade, apesar da proposta ser de um salário baixo, era a chance que ele esperava no ramo do Direito, além de conseguir a experiência de campo, entraria para o seleto grupo de estagiários de Direito da Advogados Preferenciais. Desgraça pouca é bobagem, mas proposta pouca também é, o seu futuro sogro iria abrir uma filial em outra cidade e também ofereceu-lhe uma oportunidade de chefiar a nova filial. Três propostas, todas mudariam radicalmente a sua vida, Golias tinha 24 horas para tomar a decisão. Preferiu a proposta do sogro, parecia mais viável, trabalhou por dois dias como o principal homem da cidade de Filhos de Agripino, afinal ele chefiava a fábrica que colocaria a cidade no mapa, mas houve um incêndio e tudo foi perdido inclusive a vida de Golias...

...

Preferiu ser desenhista afinal era o seu sonho, arriscou tudo, largou a faculdade, o emprego público e nem mesmo a futura esposa o quis acompanhar, isto deu tempo para que ele fosse criativo e mesmo com a tristeza da solidão que durou pouco; a sua criatividade foi decisiva para o sucesso da nova revista, A "Situações públicas e privadas" açambarcou os leitores das outras revistas em quadrinhos e foi um sucesso quase meteórico, Golias ganhou tanto dinheiro que uma infinidade de desconhecidos apresentou-se para ele como parentes de 1º, 2º e 3º grau, foi entrevistado por redes de televisão que nem imaginava que existia, virou um tipo de arquétipo dos homens bem sucedidos...

...
Preferiu ser estagiário de Direito, foi devidamente sugado por seus superiores advogados e também por alguns companheiros estagiários, mas com todo este trabalho e sacrifício se tornou advogado, casou-se com a mulher que era sua noiva, teve 4 filhos e infelizmente não teve tempo para eles, pois trabalhava até mesmo de madrugada, ficou rico e acabou sendo assassinado por um de seus filhos ambiciosos que acabou na cadeia e beneficiou quem, como direi "Não colocou a mão na massa"...

...
Preferiu ficar onde estava, afinal era um serviço fácil, estava quase acabando a faculdade, achava que surgiriam propostas melhores e o melhor de tudo é que no serviço público o salário é garantido, não é mesmo? Passaram-se 30 anos e ele estava formado em direito, ganhando o mesmo salário, passando fome, valorizando o seu serviço como nunca, divorciado, sem nenhum cabelo na cabeça e arrependido de não ter tomado uma decisão acertada no momento certo.

sexta-feira, março 12, 2010

Pusilânime

Gonçalves nunca foi um brigão, ao contrário de seus colegas de escola, era da paz, religioso, acreditava que tudo poderia ser resolvido com uma boa conversa, mesmo assim ficou conhecido como Beterraba pois sua cara estava sempre vermelha de sangue. Seus pais não sabiam mais o que fazer, reclamavam na escola, ameaçavam os pais dos brigões, chegaram até a entrar com um processo por lesões corporais e até ganharam o processo, mas o beterraba continuava passando pelos mesmos problemas. Então Narciso, resolveu ajudar Beterraba:
- Você é que é o beterraba?
- Olha a minha semana já está cheia, segunda o Valmir vai me bater, terça tem o Julião, quarta o Polaco, quinta o Jorge Fernando e Sexta o Ricardo, se vc quiser posso encaixar um horário para você na semana que vem, menos na quarta porque eu com certeza estarei no hospital para me recuperar dos ferimentos.
- Puxa você é um cara organizado em, mas não foi para isto que eu vim aqui, eu quero ajudá-lo.
- Será que estou sonhando? Um fortão que não quer me bater? Minhas preces foram ouvidas.
- Certo, cansei de ver estes idiotas abusarem de você.
- Você vai ser meu guarda-costas?
- Não, vou ensiná-lo a se defender.
- Claro que vai. Você não entende, né? Eu sou um covarde, pusilânime se preferir, não tenho a menor condição de enfrentar quem quer que seja, se o meu pai grita comigo, tenho que trocar de calça, você deve saber o porquê.
- É, eu imagino, acha que há algum motivo para isto, você teve algum trauma que evita que você reaja diante do perigo?
- Você é psicólogo?
- Não, eu só quero ajudar, mas se não quiser, tenho mais o que fazer.- e vai saindo.
- Não, espera, você tem algum plano?
- Tenho sim, como o tempo voa, a primeira coisa que você tem aprender é a não ter medo.
- E como eu faço isto? Tomo algum remédio?
- Não, você precisa aprender a olhar nos olhos, olhe nos meus olhos.
Assim, Narciso mostra a Gonçalves que através dos olhos pode-se antecipar movimentos e que isto poderia lhe dar alguma vantagem, na hora de uma luta corpo a corpo, depois Narciso ensina alguns movimentos de esquiva e a sempre eficiente rasteira. Mas mesmo assim, na luta do dia, Gonçalves volta ensanguentado:
- O que houve Gonçalves?
- Acho que fiquei nervoso e esqueci todos os movimentos.
- Ao menos você conseguiu olhar nos olhos dele, num primeiro momento sim, depois que levei a primeira comecei a ver tudo embaçado.
No outro dia, Narciso leva Gonçalves a um local de treinamento e faz com que ele aprenda a dar socos, nos treinos parece um aluno exemplar, como diria o velho Neném Prancha, "treino é treino e jogo é jogo", assim novamente a situação se repete e assim foi durante a semana, apesar de parecer um caso perdido, Narciso continua com a sua "Capela Sistina" chamou para si a responsabilidade e teve uma grande idéia:
- Qual a coisa que você mais odeia?
- Não sei, acho que não odeio nada.
- Então está na hora de você odiar, por acaso você não odeia as pessoas que te batem?
- Não, sei que são tolos e eu os perdoo por isto.
- Cara, você é um cara difícl de ensinar, vamos fazer o seguinte: ...
Esta luta é entre Juvenal e Gonçalves, Juvenal bate o pé e assusta Gonçalves, após investe contra ele pela direita, Gonçalves dá um passo para trás e soco de Juvenal passa no vazio, desta vez quem investe é Gonçalves para a surpresa de Juvenal e acertá-lhe o queixo, Juvenal vai ao chão e Gonçalves acorda do seu sonho:
- Será que eu consigo fazer isto.
Mais tarde Gonçalves espera por Juvenal e ele não aparece, Gonçalves se sente estranho finalmente se livrou de uma surra, mas não entende o que está acontecendo ele vai para casa e quando chega, sua mãe também fica surpresa:
- Ué, você não apanhou hoje?
- Pois é o Juvenal deve ter tido outro compromisso, estou até preocupado, é a primeira vez que ele falta em meses.
O telefone toca, depois de atender, a mãe de Gonçalves diz:
- O Juvenal está nos Hospital.
- Vamos para lá então, mãe.
- Sabe, Gonçalves você é um garoto estranho, este rapaz te bate há anos e você ainda quer vê-lo no hospital, acho que você já tem a sua vocação; Secretário-Geral da Onu.
No hospital:
- Juvenal, o que houve?
- Eu não sei, estava indo encontrar você para a nossa briga semanal e senti uma forte dor no queixo e quando acordei estava no hospital.
- Sério Juvenal, engraçado você falar nisto porque eu sonhei que tinha acertado você no queixo.
- Tá brincando?
- Não.
A história se espalhou e ninguém teve coragem de lutar com o "garoto bruxo". Gonçalves achava que "Garoto bruxo" era muito melhor que "Beterraba".
O que realmente aconteceu? Narciso se escondeu atrás de um muro de esquina e desferiu um soco em Juvenal assim que ele passou, a ação foi tão rápida que Juvenal nem percebeu de onde veio o soco, Narciso nem imaginava que Gonçalves havia tido o sonho; eles haviam combinado de que Narciso ficaria dando as dicas num local escondido perto da luta para facilitar as investidas de Gonçalves, mas deixou o caso ficar mítico afinal é muito difícil mudar um pusilânime.

segunda-feira, março 08, 2010

Dia Internacional da Mulher

Há registros de que este dia nasceu numa greve cuja reivindicação era a de melhores condições de trabalho e redução de jornada de 16 para 10 horas. Este dia que ainda não se tornou comercial, pode ser a forma de retratação da camada masculina da sociedade em relação a todos os desmandos realizados por seus ancestrais com a classe feminina. Hoje as mulheres tem seu valor demonstrado a cada dia, elas ainda passam muitas dificuldades no que se refere a igualdade em relação aos homens. Ainda há mulheres ganhando a metade ou até mesmo um terço do que ganha o homem e realizando o mesmo serviço; esta situação pode se perdurar por muitos anos ainda. A principal alegação dos empresários é que as mulheres tem mais compromissos médicos e também podem desfalcar a suas empresas por longos seis meses por causa da licença maternidade; esta cultura deve ser combatida e opções devem ser estudadas para que isto não se torne uma desigualdade social, pois no final das contas apenas o setor público é que trata os sexos indistintamente, pois o salário refere-se ao cargo e não ao sexo do funcionário. O fato das mulheres frequentarem mais os médicos denota uma sabedoria que a coloca como infinitamente mais saudável que os homens, elas são mais ponderadas, mais equilibradas e sabem negociar como ninguém, perder esta força de trabalha é algo inadmissível nos dias contemporâneos. Apesar de ser a favor de que o dia da mulher se perdure para que não haja mais nenhum tipo de preconceito em relação a classe feminina, ainda me incomoda que isto seja feito em apenas um dia do ano. Para mim, vale a velha máxima "Quem é importante é importante todos os dias e não em apenas um".