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terça-feira, outubro 23, 2012

Trinta Segundos IV

E após 15 anos, chegamos ao início da nossa história, em que Júlio faz a pergunta a Graziela, importante ressaltar que durante este período Júlio se manteve fiel ao seu amor por Graziela enquanto ela finalmente teve coragem de sair de seu relacionamento falido com o marido, aliás, ele foi embora sem saber que estava sendo traído, mas agora isto não tinha importância, ela estava totalmente livre para tomar a decisão de seguir o amor ou se amedrontar diante do desconhecido. Graziela diz:
- Júlio, você sabe que é complicado para mim, não sei ao certo o que estou sentindo, tenho medo de entrar em um novo relacionamento e me magoar e mais importante ainda magoar você.
- Em 15 anos já me magoou o suficiente, pode deixar eu aguento. Agora só tem 15 segundos.
- Eu prefiro deixar como está, não vou me arriscar a um relacionamento sério.
- Então não temos mais nada a conversar, tenha uma boa vida!- diz isto e desliga o telefone.
Graziela fica atônita e fica longos minutos olhando para telefone sem entender o que ocorreu nesta importante conversa telefônica. Mais tarde Graziela encontra Suzana:
- Oi Grazi, tudo bem.
- Mais ou menos Suzana.
- Que foi, porque esta cara tristinha, vamos ali tomar um café e você me conta tudo.
Depois que a longa história é contada tintim por tintim (mulheres são detalhistas).
- Grazi, então você tem este cara louco de paixão por você há 15 anos e você não se separou, não investiu no cara, até bom de cama você disse que ele era e aí, o que houve porque você não ficou com ele, ele era preguiçoso?
- Não.
- Ganhava pouco?
- Não, ganhava muito mais que eu.
- E hoje, ele ganha pouco?
- Suzana.
- O que? Não seja hipócrita, você sabe que dinheiro é importante.
- Não Suzana, ele não tinha problemas com dinheiro, era, e ainda é, um grande financista, ao contrário de mim.
- Então eu não entendi e olha que sou mulher, geralmente pegou tudo no ar.
- Ele me ligou hoje.
- Ligou é? E aí?
- E aí que me deu um ultimato.
- E você.
- Morri de medo, Suzana.
- Do que, sua boba?
- Acho que o que ele sente por mim, me amedronta, tenho a impressão que depois que eu ficar com ele, ele possa me abandonar por uma menina qualquer e aí posso sofrer demais.
- Pergunta básica, queridinha. Você o ama?
- Sim, não no início, eu só queria sexo de qualidade, sabe como é.
- Sei, é difícil encontrar hoje em dia, mesmo com os jovens, que só querem obter seus próprios prazeres, egoístas ao extremo.
- A pouco mais de dez anos me apaixonei perdidamente por ele quando no meu aniversário me levou a um grande shopping e disse: " Tudo o que você quiser e eu puder comprar daqui, você pode escolher, hoje é o seu dia."
- Depois você tem a cara de pau de dizer que dinheiro não é importante.
- O Suzana que falta de sensibilidade em.
- Tudo bem, mas o que você comprou?
- Um casaco e um perfume.
- Ah, meu Deus, porque o senhor só dá asas para quem não sabe voar.
- Você não entende Suzana, neste dia ele disse que me amava tanto que nada tinha mais valor para ele que a minha felicidade, o fato de estarmos no shopping era apenas um símbolo.
- Entendi, mas e o telefonema?
- Então, ele disse que não tínhamos mais nada a conversar já que eu não queria um relacionamento sério.
- Então, eu suponho, que ele não vai mais te procurar, estou certa?
- Ele já fez isto antes.(uma pausa) Ele sempre volta(esperançosa).
- Tem certeza e se desta vez for verdade e ele não voltar mais?
- Acho que não, mas teve uma coisa diferente.
- O que?
- Ele falou sobre os tais 30 segundos.
-Como é que é?
- 30 segundos.
- Com foram as palavras exatas?
- "Graziela, a partir de agora você tem 30 segundos para dar uma resposta, depois disso, você nunca mais vai ouvir falar de mim, esta é a sua última chance. Vem comigo?" - Diz isto com uma entonação grave tentando imitar um homem.
- Não é possível.
- O que não possível?
- Ele disse exatamente estas palavras?
- Sim, porque?
- Não sei se devo te contar isto.
- É claro que deve, vai me deixar curiosa?
Júlio caminha pelo aeroporto empurrando um carrinho com uma pesada mala que terá de despachar, Graziela chega a entrada e pergunta sobre o portão de embarque para o Canadá, recebe a informação no guichê e corre para tentar impedir o seu amor de viajar. Júlio mostra o passaporte, as passagens compradas, despacha as malas, passa pelo raio - X e espera pelo embarque. Graziela vê Júlio passar para a sala de espera e vai atrás dele, um segurança a impede:
- Minha senhora, você não pode passar.
- Por quê? eu só quero falar com aquele moço.
- Não minha senhora a partir daqui, somente com passagem e cartão de embarque.
- Onde consigo isto?
- Naquela fila.
- Não vai dar tempo. O que posso fazer para que você mude de idéia?
- Você tem passaporte?
- Sim.
- Você está querendo dizer que se eu tivesse 500 dólares nesta mão eu deixaria você embarcar? - Diz isto à parte para que ninguém ouvisse.
- 500 dólares?
- Sim.
- Não tenho este dinheiro, aliás só tenho moeda nacional.
- A senhora está vendo aquela casa de câmbio, ali tem tanto que estão até vendendo.
Graziela vai a casa de câmbio e ouve no alto falante: "última chamada para o vôo São Paulo - Vancouver embarque pelo portão C."
- Vancouver, será que é para lá que vai o Júlio.- Pensa Graziela
Júlio levanta-se e se encaminha ao portão de embarque, entra no avião se acomoda em sua poltrona, lê as instruções de segurança em uma revista. Graziela resolveu o problema com o segurança, encaminha-se ao portão C, mas o portão já estava fechado e ela olha pela janela o avião subir levando o seu grande amor para outro país. Júlio pensa:
- Até o último segundo, eu achei que ela viria.
Graziela num último esforço tenta ligar para o celular de Júlio, Júlio olha para a chamada e diz em voz alta:
- Você teve a sua chance minha amada.
Derrotada Gaziela pensa no que Suzana disse:
"- Há muitos anos atrás eu tive um romance com sujeito chamado Guilherme, ele também parecia loucamente apaixonado, eu nunca tinha dado muita bola para ele, mas como você disse, o sexo era de qualidade, eu não conseguia encontrar ninguém que conseguisse superá-lo, entre idas e vindas, recebi um telefonema dele dizendo esta mesma frase que você me disse, à princípio não dei importância, mas depois de um mês sem que ele me procurasse resolvi ir atrás dele e não consegui mais encontrá-lo, tinha mudado o celular, o emprego, o endereço, eu não tinha menor pista de onde ele estava e somente depois de tudo isto descobri que perdi o homem da minha vida, não deixe isto acontecer com você, você jamais vai se perdoar, eu sei que eu não me perdoo."
Num último suspiro Graziela diz:
- Adeus, amor da minha vida.





FIM