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segunda-feira, novembro 12, 2012

Amnésia

Quando acordei hoje pela manhã, não reconheci o quarto, por mais que andasse por ele, não achei nenhuma conexão com o dia anterior, aliás, não sei nem que dia é hoje, tenho a impressão que dormi por um século, meus olhos estão praticamente fechados com as secreções dos meus olhos, lavo o rosto e pego a toalha que está escrito "Pensão Sardinha". "Como vim parar na pensão sardinha", olho no espelho que esta trincado, mas não consigo reconhecer o meu rosto, quando foi que deixei a barba crescer, nunca gostei de barba, olho no banheiro e desesperadamente procuro um aparelho para me barbear e vencido por não encontrá-lo, desisto da empreitada e resolvo descer as escadas em buscas de pistas sobre o lugar, sobre mimm, sobre tudo. Na recepção encontro um jovem de aproximadamente 25 anos ele me dá um sorriso e diz:
- Pois não, posso ajudá-lo?
- Não sei, mas pode tentar.
- Não há nada de errado com o quarto, há?
- Não, eu só gostaria de saber, como vim parar aqui?
- Você não se lembra?
- Na verdade, não.
- Se me der o seu nome poderei lhe dizer algumas coisas sobre a sua estada.
- Os problemas já começam por aí, eu não sei o meu nome.
- Não sabe seu nome?
- Euclides!
- Diga Matias.
- Deixe o rapaz comigo, eu sei o que houve com ele.
Euclides deixa o balcão e um senhor de 40 anos assume o seu lugar dizendo:
- Você apareceu aqui há 3 noites atrás.
- É mesmo, eu vim sozinho?
- Na verdade, você estava desacordado.
- Então quem me trouxe?
- Ele disse que era seu irmão.
- Meu irmão e como ele era?
- Metro e oitenta, rosto redondo, negro retinto, músculo enormes, mas o que me chamou atenção é que ele era de poucas palavras, disse apenas para que eu cuidasse de você e pagou duas diárias da pensão e a propósito, você me deve uma diária.
- Acreditou nele?
- Sobre o que?
- Sobre ser meu irmão?
- Olha, não sou pago para acreditar ou deixar de acreditar em quem quer que seja, ele me pagou adiantado em dinheiro vivo e eu sabia que não era falso, fiquei especialistas depois que alguns falsários passaram por aqui.
- Como posso ter um irmão negro sendo branco de cabelos loiros?
- Não tenho nada com sua vida, nem com a de seus pais.
- Certo e onde é aqui?
- Pergunta sobre o bairro ou sobre a cidade?
- Sobre tudo.
Matias sai detrás do balcão e puxa um mapa que estava fixo na parede, pega uma antena antiga de TV, estica-a e aponta:
- Nós estamos aqui.
- Porto Velho, Rondônia, mas como eu vim parar aqui?
- Você me pagaria se eu soubesse.
- Claro.
- Infelizmente, perderei este dinheiro.
- Se você pelo menos me dissesse onde encontrar este meu suposto irmão.
- Eu não sei, mas talvez o curandeiro saiba.
- Curandeiro?
- Sim, ele mora no centro, é só perguntar por ele e você o achará, mas devo avisá-lo que, como ele próprio diz, "só relógio trabalha de graça". Ainda devo lembrar-lhe que me deve uma diária.
- Certo vou dar um jeito de pagar, talvez andando pela cidade eu possa arrumar um trabalho.
Saí para o centro da cidade em busca do curandeiro, pergunto para um, pergunto para outro, é um pessoal muito gente fina, mas são confusos para dar informações, o ali deles é muito longe, ninguém parece saber o nome das ruas, dizem os nomes dos donos dos estabelecimentos, como sou novo na cidade, perco muito tempo por não conhecer os comerciantes, depois de muita procura encontro o tal curandeiro, numa entrada que assemelha-se a casa do primeiro porquinho da história infantil, encontro uma placa escrita. "Hoje, o curandeiro atenderá", entro na tenda, encontro algumas cadeiras 3 ocupadas, 5 não, sento em uma das desocupadas e espero pelo atendimento. 3 horas mais tarde, já estou com fome e sede e sinto que estou desidratando, mas o curandeiro diz:
- Próximo.
Eu entro e digo:
- Você deve ser um sujeito especial.
- Sente-se por favor - Diz o curandeiro ainda virado de costas.- Quer me contar o que o trouxe aqui?
- Eu não sei quem sou e como vim parar aqui.
- Seu nome é Ronaldo e você veio aqui descobrir a sua história, eu estou certo?
- Não posso confirmar se o meu nome é Ronaldo, mas me soa familiar.
O curandeiro vira-se para mim e para a minha surpresa a descrição do dono da pensão é idêntica a do curandeiro:
- Você é o meu irmão?



Continua