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terça-feira, setembro 22, 2009

Conselhos de Um Condenado a Morte

Às vezes custo a acreditar que, aquele dia em que estive no Dr. Fabrício, mudaria tanto a minha vida:
- Então, Dr. ? Boas notícias?
- Nem tanto, Seo Eufrásio.
- Me diga, o meu problema é muito grave?
- Temo que sim, Seo Eufrásio, O senhor tem um câncer terminal, ele já está metastizado e infelizmente não há nada que possamos fazer.
- Mas nem um remédio, uma operação?
- Não, Seo Eufrásio, qualquer ato nosso pode abreviar a sua curta vida.
- Curta vida, de quanto tempo estamos falando?
- Difícil dizer, seis meses, um ano, depende de como reage o organismo. Eu já vi muitos milagres nesta vida, Seo Eufrásio, mas não posso contrariar a ciência, o senhor tem poucas chances de chegar ao Natal deste ano.
- Obrigado pela sinceridade Doutor.
- Eu sinto muito, não gosto de dar más notícias a pessoas boas.
Naquela manhã perdi o meu centro, não sabia o que fazer, como contar as pessoas sobre o meu estado, então, depois de sentir muito pena de mim mesmo, resolvi que não contaria a ninguém e que passaria por isto sozinho, mas o que se faz quando se está condenado a morte? Viver a vida intensamente. Poucos sabem realmente o que isto. Para alguns é viajar, para outros transar o máximo possível, mas para mim viver intensamente é fazer as pessoas felizes, por isto o meu primeiro ato foi o de pedir a minha aposentadoria baseado no diagnóstico do doutor eu teria direito e depois fui me dedicar aos mais jovens, aos sem instrução, aos desiludidos, pessoas que me ajudariam a lidar com a minha sentença de morte. Fundei uma ONG para isto. Encontrei uma jovem que estava grávida com apenas doze anos de idade, não sabia nem assinar o nome, tentei mostrar a ela que a vida seria melhor depois do nascimento do filho dela, com certeza ela teria muito mais forças e motivos para viver, pois, caso contrário, seu filho poderia sofrer; a muito custo consegui lhe arrumar uma ocupação e por mais incrível que possa parecer ela até se matriculou em uma escola para aprender o abecedário. Foi apenas uma pessoa, mas, para ela, eu fiz toda a diferença. Me perguntei, porque nunca havia feito isto por ninguém? Por que sequer teria passado pela minha cabeça que as pessoas sofrem todos os dias, sem comida, instrução, cidadania ou até vontade de viver. Não obtive resposta, mas o meu psicólogo sim; apesar de ser uma frase feita, é a pura verdade. "Só aprendemos a nadar, quando água bate na bunda." Quer dizer, só enxergamos a verdadeira necessidade dos outros, quando sentimos na pele as nossas próprias deficiências ou incapacidades, no meu caso, a proximidade do fim. Encontrei também um advogado, bem sucedido, com muito dinheiro e infeliz. O dinheiro não pode comprar tudo. Ele não entendia como podia ser tão bem sucedido, respeitado e sempre se sentir sozinho. Ora nem sempre se sabe o que se passa na cabeça do ser humano. Às vezes o dinheiro não é tudo. Perguntei quantos pessoas ele havia realmente ajudado depois de ter tido toda esta fartura. A resposta estava pronta; tenho muitos chupins a quem sustentar. Ele parecia não ter entendido a pergunta.
Expliquei a ele que a ajuda nem sempre é com dinheiro, em muitas ocasiões, um sorriso, uma conversa, um presente ou até uma presença valem mais do que um milhão de reais. O advogado demorou para entender e até achei que ele jamais entenderia, até que sofreu um acidente e recebeu uma visita de sua filha que há muito não via; assim compreendeu que o dinheiro tem a sua função, mas o que realmente importa são as pessoas. Eu vivi por mais de 8 anos, bem mais do que o Dr. Fabrício havia predito, mas hoje sei que estou no fim dos meus dias e agradeço a Deus por esta doença ter me despertado para a vida e deixo a vida com a sensação do dever cumprido.

O Seo Eufrásio morreu no dia 15 de abril de 1992 às 18:31, havia mil pessoas cercando o hospital querendo vê-lo, até a polícia militar foi acionada para evitar tumultos.

sexta-feira, setembro 11, 2009

O Livro da Vida - Pág. 67

Naquele tarde estávamos passeando pelo parque e notamos a presença de um corredor, em que pese o assunto ser outro, não pudemos deixar de notar o seu cansaço, o suor às bicas e os olhos de tigre, imediatamente encerramos o assunto e começamos a nos perguntar: será que nós conseguimos agir desta forma em todas as provações da nossa vida? Diante da resposta negativa, nos perguntamos como poderíamos mudar esta atitude, então resolvemos parar o corredor para perguntar qual o objetivo deste, ao que nos pareceu, longo e penoso esforço físico; ele nos disse:
- Até o ano passado, eu não podia andar, mas conheci o Doutor Gilberto e ele acreditou em mim mais do que eu mesmo, me receitou algumas fisioterapias e um tratamento psicológico com ele mesmo, meses depois eu já movia o hálux e dias depois já conseguia caminhar e hoje meu único objetivo é não voltar a minha vida de inatividade anterior.
Depois disso continuou, sem o menor desejo de parar para descansar, a sua maratona de vida. Algumas lições se aprende no parque, outras em almoços e outras ainda apenas saindo de casa.
Devemos ter olhos abertos, ouvidos atentos, pois, por muitas vezes, os grandes homens e mulheres passam despercebidos por nós como meros transeuntes .

quinta-feira, setembro 03, 2009

Em busca do pé de coelho IV

- Senhor Gustave Baudelaire, por gentileza.
- A quem devo anunciar?
- Diga que é o advogado dele, preciso conversar com ele sobre uma intimação.
Logo:
- O meu advogado? Intimação? Mas eu não estou sabendo de nada? Humm, diga para ele esperar no hall do hotel que eu estou descendo.
- Ótimo.- Desliga o telefone e dirigi-se a Jamil - Senhor, por favor, o senhor Baudelaire pediu para que o esperasse no hall do hotel que ele já está descendo.
- Obrigado farei isto.
Depois:
- Jamil.
- Baudelaire. - Assente com a cabeça.
- Essa do advogado é nova, em?
- Como me reconheceu?
- Sei tudo sobre você. Sou um ex-agente, conheço todos os meus possíveis inimigos.
- Então sem mais delongas, onde está a nuvem de prata?
- Bem, vejo que também fez o seu trabalho de casa, antes de lhe dar esta informação devo perguntar, o que eu vou ganhar se lhe der esta informação?
- Bom, para começar, vai ver o dia nascer novamente, quanto ao dinheiro vai ter que falar com o Guaianazes, eu não sou muito bom economista.
- Não me parece um acordo muito bom, por isto, devo dizer que o tempo está esgotado, foi um grande prazer conhecê-lo.
Gustave anda calmamente até a porta giratória do hotel e quando a atravessa surge uma nuvem prateada vindo do elevador, esta nuvem começa a piscar como se tivesse uma eletricidade vindo de dentro dela a nuvem toma conta de todo o hotel e se dissipa logo após. Jamil pega o celular e tenta ligar para Vidigal, Uma voz um tanto diferente lhe atende:
- Alô.
- Vidigal, eu consegui conversar com o Baudelaire, ele realmente está com o pé-de-coelho ele acabou de sair do hotel.
- Quem está falando?
- É o Jamil, Vidigal, não me reconhece?
- Jamil não conheço nenhum Jamil, O Baudelaire ao qual se refere é Gustave Baudelaire?
- Sim.
- O Presidente da República?
- Vidigal, que droga você anda tomando?
Neste momento a TV diz em alto e bom som:
"E agora com vocês o pronunciamento do Excelentíssimo Senhor Presidente da República Gustave Baudelaire:"
"- Povo Brasileiro é com grande pesar que informo os aumentos das tarifas públicas, quero explicar detalhe por detalhe o porquê desta minha atitude..."
Minha Nossa, o que será que aquela fumaça preta fez com a minha cabeça, eu só posso estar sonhando...
Vidigal tenta ligar para Jamil, mas o telefone só dá fora de área, ele resolve se dirigir ao hotel onde Gustave estaria hospedado, para a surpresa de Vidigal, o hotel não está mas onde deveria estar; um grande buraco coberto com uma energia branca em forma de vórtice havia tomado o seu lugar .


Continua