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segunda-feira, dezembro 15, 2014

LHB – Granamir

- José de Andrade Guimarães?.
- Sou eu, senhor.
- Aproxime-se – Pausa - Deixe me ver, você tem dezessete anos, nunca trabalhou, quer pleitear a vaga de Gerente Administrativo. Bem você sabe que esta vaga necessita experiência, conhecimento em administração, finanças, planilhas, balanço patrimonial, tendências de mercado e etc.
- Sei sim.
- E que para isto o senhor precisa de uma formação superior o que pela sua idade e currículo está claro que não tem.
José assente com a cabeça e o home diz:
- Próximo por favor, senhor Vitorino Gonçalves.
Vitorino se levanta, mas...
- Senhor me dê uma chance, deixe-me fazer um teste, o senhor não irá se arrepender.
Mesmo sem acreditar no garoto, ele resolve jogar aquele jogo:
- Apresente-se ao senhor Golias na sala 08, é o máximo que posso fazer por você. – Diz isto e chama o próximo.
Na sala 08:
- Senhor Golias.
- Sim. – Um homem com um charuto na boca, um uniforme cinza e com uma vassoura na mão – Posso ajudar?
- Eu sou José de Andrade Guimarães
- Veio se confessar, senhor Guimarães?
- Não senhor, por que a pergunta?
- É que poucas vezes sou procurado por um jovem, ainda mais dizendo o seu nome completo, achei que havia me confundido com um padre, sabe por causa do uniforme.
Guimarães tenta esboçar um sorriso com o humor prá lá de diferente de seu interlocutor:
- Na verdade o entrevistador me mandou procurá-lo.
- Sério, finalmente, então você será o meu substituto.
- Substituto, mas eu disse que queria o cargo de gerente.
Golias solta uma gostosa gargalhada e diz:
- Sabe senhor Guimarães eu também queria ser gerente quando cheguei aqui a cerca de 40 anos atrás, acho uma incrível coincidência que eu esteja passando pela mesma situação que passei há quarenta anos quando fui apresentado ao senhor Palmer, como pode ver não me tornei gerente, mas onde eu falhei, quem sabe, você triunfará.
- Desculpe senhor Golias, foi um mal entendido, eu preciso ir.
- Claro senhor Guimarães, quando quiser se confessar retorne, estarei aqui no mesmo lugar onde estou há quarenta anos.
Este flash de memória tem incomodado Granamir ultimamente, fica imaginando como seria sua vida se tivesse aceitado a proposta de Golias e não ido pelo caminho que escolheu, sua carreira de líder de conspirações iniciou cedo quando ainda tinha 20 anos ou seja, 3 anos mais tarde de sua tentativa de se enquadrar na vida normal:
- Zezinho?
- Tio Alberto, não esperava vê-lo hoje.
- Onde está a sua mãe.
- Trabalhando na casa da patroa lá nos bairros nobres.
- Tá a fim de ganhar uma grana.
- Quer que compre alguma coisa para você?
- Não exatamente, só quero que você faça uma entrega.
- Entrega? Por acaso são drogas?
- Bom, Zezinho, talvez eu devesse oferecer estes 400 dólares ao Sebastião, ele nunca pergunta que tipo de mercadoria ele vai entregar.
- 400 dólares?
- E o pagamento é adiantado.
- Demorou, onde eu preciso ir?
- Na estação Rodoviária na venda de passagens, combinei com o Furão na primeira empresa.
- Furão?
- Sim, é assim que deve chamá-lo, darei a sua descrição para ele, apenas confirme que é ele, não precisa ficar amigo dele tá.
- Por que não?
- Zezinho, ele é um cara perigoso.
- Eu tenho um tio que também é. – repondeu ele quase sussurrando.
Na Estação Rodoviária, Zezinho está a mais de meia hora plantado em frente a empresa Boa Viagem e ninguém aparece, quando de repente vê um furão em volta de seus pés:
- Puxa, tá aí uma coisa que não se vê todo dia.
Uma voz cavernosa e assustadora o interpela:
- Zezinho.
Ele responde assustado:
- Sim – ainda olhando para o furão.
- Não eu estou aqui em cima.
Uma mão toca o seu ombro:
- Senhor Furão.
- Sim, trouxe a encomenda?
- Trouxe está aqui na minha mão.
Passa a encomenda para ele, Furão olha para os lados e segue seu caminho, mas:
- Senhor Furão - grita o rapaz na rodoviária, chamando a atenção de todos.
Furão fica muito irritado e o chama para um café:
- Sabe menino, deve ser a sua primeira vez, então eu vou deixar passar, mas já matei pessoas por menos do que isto.
-O menino começa a tremer ao pegar a xícara, mas tenho certeza de que você pode me ajudar muito.
- Por que acha isso senhor Furão.
- Por que você tem cara de bom moço e na nossa profissão isto é uma vantagem.
- Na verdade eu quero uma vida diferente estou cansado de querer fazer a coisa certa há 3 anos venho tentando arrumar um emprego e até agora só consegui fazer esta entrega para o meu tio, acho que o senhor pode me ajudar a conseguir uma vida melhor.
- Uma vida melhor e mais perigosa, posso te dizer os primeiros passos.
- Estou ouvindo.
- Não se ligue à nada, pois se precisar fugir e se esconder não terá laços, se quiser ter família, esposa, filhos ou frequentar algum clube pode parar por aqui isto não é para pessoas como nós, digo que vale muito a pena, que você pode ter uma vida de rei, mas tudo pode acabar em um segundo, no nosso ramo não podemos confiar em ninguém alguém sempre pode te trair, sob tortura, por dinheiro ou deliberadamente, portanto a sua escolha deve ser feita agora, depois não conseguirá sair nem que você queira.
- Entendi senhorFfurão, eu quero entrar.
- Tudo bem, está na hora do treino.
O café é invadido por policiais que disparam uma rajada de balas na direção de Furão, ele levanta a mesa para se proteger e atira contra os policiais, Zezinho, tremia como nunca tremeu em sua vida.
- Garoto, quando eu disser agora, vou quebrar o vidro da janela e nós teremos que pular, entendeu.
- Entendi, mas será que eu não vou me quebrar.
- Quando cair role no chão assim amorteerá a sua queda e terá apenas arranhões. Agora.
Furão dá dois tiros nos vidros da janela e se joga pelo vidro e é seguido por seu novo parceiro ambos caem perto da entrada da rodoviária:
- Consegue andar? Pergunta Furão.
- Sim, foi exatamente como você disse, só tive alguns arranhões.
Ambos entram num furgão que segue em disparado pela rodovia que sai da rodoviária o policial olha pela janela e passa o rádio:
- Furgão preto sem placa seguindo pela rodovia principal, dois suspeitos armados e perigosos, favor abordar, mas com muito cuidado.
No meio do caminho o furgão se transforma em uma ambulância, mudando a cor, os faróis, as laterais e até as rodas. Os policiais que fizeram o cerco, não conseguem localizar o veículo, mas mesmo assim param a ambulância que após apresentar os documentos é liberada sem a vistoria. Zezinho com o coração acelerado diz:
- Obrigado senhor Furão, está foi por pouco.
- É assim todo dia, meu garoto, talvez você devesse escolher um codinome, ninguém vai se intimidar com o nome Zezinho.
- Tem alguma sugestão?
- Tem algum vilão ou herói de infância?
- Foi assim que escolheu o seu?
- Não, me chamo furão porque costumo não comparecer aos compromissos sou muito esquecido.
- Tenho um nome que gosto muito.
- E qual é?
- Granamir.
- Ótimo hoje morreu o Zezinho e nasceu o Granamir.


Continua

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