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quarta-feira, outubro 11, 2006

Um encontro casual

- Um passarinho me contou que você casou.
- Ah é. E esse passarinho também te falou que me separei.
Carlos era um grande amigo de Selma, há muito tempo não se falavam e se encontraram por acaso numa rua perto da praça, resolveram tomar um suco e aí as memórias os entreteram por muitas horas:
- Nossa nunca imaginei que ficaríamos tanto tempo longe um do outro, éramos tão colados que alguns até diziam que iríamos casar um dia.
- Ora, Carlos a gente não casou porque você não quis.
- Não foi bem assim, tínhamos objetivos opostos, você queria conquistar o mercado de softwares e eu queria trabalhar na televisão, não poderia perder aquela oportunidade de fazer o comercial.
- Mas viu no que deu, você ficou famoso?
- É claro que não, mas continuo tentando.
- Ah é, tá fazendo teatro.
- Exatamente.
- É o protagonista?
- Não sou caboman
- Caboman??
- É, mas temos que começar de baixo.
- Tô sabendo, quem te contou que eu casei.
- O Júlio, lembra dele.
- Claro, o Júlio, figuraça, uma vez ele chegou na faculdade e ficou sabendo que ia ter uma prova, ele não havia estudado nada, então ele pegou o meu caderno deu uma rápida olhada e fez a prova, você acredita que ele tirou dez e eu que havia estudado e freqüentado as aulas tirei seis.
- É o cara era impressionante, então, eu o encontrei numa apresentação da minha peça, ele tava passeando pelo Rio e resolveu ir ao teatro, daí ele me contou que você havia casado. Mas como foi isso, foi tão rápido, eu saí por dois anos e você casou e já se separou.
- Ih cara, nem te conto, fui trabalhar numa loja de softwares e conheci o Danilo, não sei o que me chamou atenção nele, talvez o fato de querer ser ator, então saímos algumas vezes e ele me propôs casamento, de uma hora pra outra.
- Não me diga, que cara estranho.
- Pois é, eu estava estabilizada,ele também, ele já tinha um apartamento, aí achei que não teria nada de mais.
- Mas você estava apaixonada.
- Aí é que tá, acho que não, mas há muito tempo que eu estava sozinha, não queria esperar mais e perto dos trinta, bateu aquele desespero, sabe como é.
- Entendo, mas como e porque durou tão pouco.
- Começou errado, só poderia terminar errado. Na lua de mel, fomos para o nordeste e lá ele encontrou conhecidos do antigo grupo de teatro, dentre as quais uma ex-namorada, coisa que só fui descobrir da pior maneira, começamos a sair junto com o grupo nas baladas e eu estava curtindo eles eram superdivertidos tiramos muitas e fotos, mais alguns meses depois, eu volto para casa mais cedo e dou de cara com a dita cuja no meu sofá em cima do Danilo, enchendo ele de beijos. Dá pra acreditar?
- Pois é, mina, coisas da vida.
- E você o que houve com você nesses dois anos?
- Depois que fui fazer aquele teste, penei muito na cidade maravilhosa, teimosamente tentando ser ator, vez por outra conseguia um dinheiro como figurante, mas nunca nada maior. A globo me chamou para fazer um teste uma vez.
- Não me diga, a editora globo, eu tinha deixado uma ficha para faxineiro lá.
- Mas é bobo mesmo.
- Eu tinha me esquecido, é claro que não apareci, aí conheci o Marcelo que trabalhava neste grupo de teatro e disse que se eu tivesse paciência, quem eu poderia estrelar uma peça, eles são muito unidos e vivem dando oportunidade para os mais jovens.
- É, Carlos, a gente planeja tanto a vida, não é, e nunca sai do jeito que a gente queria.
- Como diria um filósofo: "A vida é escrita em rascunho"
- É verdade, quer uma carona para algum lugar, o meu carro tá aqui há duas quadras.
- Claro, eu tenho que ensaiar agora, esta cidade Rio Negro é muito bonita, mas se eu não estiver lá na peça, ninguém vai ouvir ninguém.
- É eu sei o que é ser necessário, dou consultoria de informática e a maioria dos meus clientes, talvez não conseguissem nem ligar o computador sem a minha ajuda.
E Selma deixa Carlos na porta do teatro:
- Quando nos veremos de novo, Carlos.
- Não sei dizer, esta é a última apresentação nesta cidade, amanhã, vamos levantar a acampamento e ir para Treze Tílias. Mas foi um imenso prazer revê-la.
- O prazer foi meu, quando estiver por aqui, não deixe de me ligar, pegue o meu cartão.
- Obrigado, boa sorte.
- Pra você, também.

Um comentário:

Anônimo disse...

mais uma vez o autor Hugo nos presenteou com um bom conto vale a pena ler.
Fátima