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quinta-feira, setembro 29, 2011

Terapia Social

Verônica estudava muito, pois o curso que pretendia era bem concorrido na universidade, deixava de fazer quase tudo para se dedicar ao seu futuro; amigos, tinha muitos, pois era muito simpática e carismática. Michael era diferente, de poucos amigos, exigente ao extremo, perdia a cabeça por pouca coisa, chegou até a procurar um psicólogo, não era normal um sujeito querer bater no cobrador porque o pobre não tinha 10 centavos de troco, ainda assim, Michael achava que era apenas incompreendido; frequentou apenas duas sessões e achou que o profissional não era qualificado, paciência nunca fora o seu forte. Verônica com a cabeça cheia de preocupações para num café, põe a sua bolsa em cima da mesa abre um caderno de exercícios do cursinho e faz o que sabe fazer melhor: estudar. Em outra mesa, no mesmo estabelecimento, Michael olha para a televisão e apura os ouvidos para tentar entender o que o homem do noticiário está falando, mas seus esforços são em vão, deixando-o contrariado novamente.
- Deseja o cardápio senhor.
- Ah, sim, claro, Obrigado.
O telefone de Verônica toca, não seria nada de mais se a música não fosse alta e com o tema de Magnum P.I. (um seriado dos anos 80). Por óbvio, chamando a atenção de Michael, que não sabe se ri ou se atira o cardápio contra a moça, mas resolve deixar para lá. Conforme prossegue a conversa de Verônica ao telefone, as lágrimas brotam em sua face, ela começa a minguar e desliga o telefone, baixa a cabeça sobre os braços. Michael que ainda tentava ouvir a TV percebe a situação. Verônica levanta a cabeça pensando em ir embora, mas para a sua surpresa:
- Olha moça, sabe, não pude deixar de notar, você está bem?
- Eu pareço bem? - ainda chorosa.
- Não, não parece, meu nome é Michael.
- Como vai, Michael? Sabe eu tenho muita coisa para fazer, não tenho tempo para perder com você sabe, eu preciso ir.
- É claro que precisa, mas se não se importa, eu gostaria de te pagar um café e também de ouvir tudo o que puder me dizer sobre seu problema, pois talvez ajudando você, eu ajude a mim mesmo.
- Como assim?
- Posso dizer que sou pavio curto, explodo com facilidade, então achei que precisava de terapia, mas ao ver você em prantos lá da mesa onde eu estava, percebi que poderia aprender muito com você.
- O que acha que tenho a ensinar para você.
- Você é uma mulher batalhadora, forte, estudiosa e inteligente.
- Como sabe disto?
Michael aponta para o material do cursinho que ela tinha a mão:
- Vamos, me deixe ajudá-la, acredite, eu nunca fiz isto antes. Me conte qual é o problema? O que te fez chorar, sei que não é uma coisa qualquer, tenho a impressão, que coisas simples não te abalam.
- Tem razão, coisas simples não me abalam, a história é complicada, é que meu namorado, quero dizer agora meu ex-namorado, não entende que precisamos ter prioridades na vida, ele acabou de me ligar para dizer que eu não tenho tempo para ele e que ele precisa de alguém que se dedique a relação e que eu estava deixando ele de lado por algo que ele não achava importante.
- Quer dizer estudar.
- Sim, na cabeça dele, mulheres não precisam saber muito.
- Como conseguiu namorar um cara deste?
- Acho que o fato de ter objetivos firmes e de ter poucas oportunidades me levaram a baixar meu grau de exigência. (Pausa) Sabe já me sinto melhor. E você, o que pode me dizer sobre você?
- Bem, eu ao contrário do seu namorado, quero dizer, ex, acho que as mulheres devem ser inteligentes sim, quanto mais inteligentes melhor, trabalho na Indústria Guarnieri.
- Onde?
- Indústria Guarnieri.
- Não é possível?
- Por que não?
- Eu também trabalho lá.
- Está brincando?
- Não.
- Como eu nunca te vi lá?
- Eu não sei, talvez porque eu trabalhe na contabilidade.
- Desculpe, eu não ouvi o seu nome.
- Eu não disse. - levanta-se e vai embora.
- E não vai dizer?
- Não, eu sei onde você trabalha, eu encontro você.


Continua

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