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sexta-feira, agosto 11, 2006

LIMITE DA SANIDADE

Sabe aquela paixão avassaladora que faz você caminhar nas nuvens quando está perto do ser amado e se sentir a coisa mais nojenta e insignificante quando não está. Pois é, isto estava acontecendo com Rosário:
- Ô meu bem, como vai?
- Que meu bem o que, onde você estava seu safado?
- Rosário, o que houve? Estou chegando agora e você já me recebe com quatro pedras na mão o que foi que eu fiz agora?
- Sabe quantas vezes eu tentei ligar para o seu celular?
- Não, mais tenho certeza que você vai me dizer.
- 32, Plínio, 32 e é sempre a mesma resposta, caixa postal, caixa postal.
- Por que você não me atende quando eu ligo? Estava com a outra, né?
- Que outra, mulher, eu estava em reunião no escritório, você sabe que eu não posso atender o telefone no meio da reunião, é no mínimo fora de propósito.
- Sei que tipo de reunião você anda fazendo.
Plínio abraça Rosário por trás e diz:
- Vamos parar com essa discussão meu amor, não foi para isso que eu vim para a sua casa.
- Eu sei Plínio, é que eu me sinto insegura quando não estou com você, tenho necessidade física de estar ao seu lado, acho que me suicidaria se você fosse embora.
Plínio olha para ela, um pouco assustado. Alguns dias depois, a situação se repete:
- Plínio, onde você estava?
- Como sempre trabalhando, Rosário. Será que você gosta de homem vagabundo que não precisa ir para o serviço, toda vez que venho na sua casa você vem com esta história de onde você estava, quer me ligar o dia todo, me perseguindo como se fosse um perdigueiro e tentando descobrir o que só existe na sua cabeça. Sabe, deste jeito não dá pra continuar, a nossa relação não tem mais razão de ser.
Rosário dá um grito, ensurdecedor:
- NNNNNNNNÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOO,você não pode me abandonar, o que eu vou fazer sem você, você é a razão da minha vida, eu sei que sou ciumenta, mas eu morro de medo que você vá embora e que a minha vida volte a ser vazia sem amor, sem esperança e sem expectativa, se você for embora, eu vou me matar.
- Rosário, FUI.
Ela se agarra nos pés de Plínio e é arrastada até a porta, toda chorosa, ele se desvencilha dela e vai embora. Algumas horas depois o jornal, dá uma notícia extraordinária:
- Estamos aqui direto do Edifício Melbourne, onde uma mulher ameaça pular para a morte, caso o seu namorado Plínio não venha socorrê-la, o Edifício tem 25 andares, seria uma queda muito dolorosa, voltamos a qualquer momento com o Plantão do Jornal Abre Alas.
Exatamente quando termina a reportagem, Plínio chega em casa e liga a TV, e o filme Noiva em Fuga volta a ser apresentado.
Um bombeiro chamado Matos está a caminho do local da anunciada tragédia, ainda sem saber exatamente o que vai fazer ele parece muito tenso, já enfrentou fogo, enchentes e até testes de sobrevivência, mas é a primeira vez que terá que convencer alguém a não se matar, este, que é considerado entre os bombeiros, o momento limite entre a sanidade e a insanidade. Quando Matos chega ao local, a equipe de reportagem corre para falar com ele, mas ele se esquiva, logo depois ele está no terraço do prédio olhando para Rosário em cima do parapeito de frente para a rua e gritando o nome de Plínio, Matos tenta puxar assunto:
- É por causa dele que você quer se matar?
Ela se assusta, quase cai, mas consegue se equilibrar:
- Quem é você, cadê o Plínio?
- Não creio que ele virá, como é mesmo o seu nome?
- Que diferença faz, daqui a pouco será apenas um nome numa lápide.
- Mas você não deveria estar fazendo isso.
- Ah é, e por que não? Se você conseguir me dar uma resposta satisfatória, eu desisto de pular.
- Você não tem pais, filhos, irmãos parentes?
Ela dá uma risada e diz:
- Meus pais, ah meus pais, só me botaram no mundo e acharam que tinha feito muito, sumiram e nem sei onde andam, irmãos só aparecem quando precisam de dinheiro e na hora de pagar somem, filhos não tenho ainda.
- Boa resposta, ainda, porque ainda os terá.
Nisso, o plantão do Jornal Abre Alas volta a noticiar:
- Estamos aqui no Edifício Melbourne, onde ainda não foi solucionado o problema da suicida, mas já temos o nome da infeliz, ela se chama Rosário Rodrigues.
Plínio salta da cadeira e tenta ligar para Rosário, O bombeiro está muito perto dela e o celular dela toca, ela se assusta, se desequilibra e cai, o bombeiro num ato reflexo segura a sua mão e ela fica pendurada, com os transeuntes lá embaixo na rua fazendo um OOOOHHHHHH, o celular cai e se espatifa no chão, tudo devidamente coberto pelo jornal local, o bombeiro pergunta:
- Você ainda quer viver?
- Não tenho certeza, ainda espero aquela resposta.
- Rosário, você está fazendo isto por amor, não é?
- Sim.
- Então, o mundo precisa aprender a amar incondicionalmente como você.
- Era a resposta que eu estava procurando.
Neste momento chegam os outros bombeiros, a puxam e salvam do perigo, logo depois no hall do hotel a reportagem tenta chegar até Rosário, mas ela diz que não quer falar com a imprensa e Plínio aparece na entrada do Edifício, ela corre para ele e o abraça, ele diz:
- Nunca mais faça isso!
Ela diz:
- Nunca mais me abandone!

Um comentário:

Anônimo disse...

O título descreve exatamente como é a personagem (insana)que vive realmente no limite.
Fátima