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sexta-feira, agosto 18, 2006

A mão do destino

Gabriela era uma auxiliar de enfermagem, aprendeu no curso que o melhor profissional é aquele que não se envolve emocionalmente com seus pacientes; num hospital, isto nem sempre é fácil; exemplos clássicos: crianças queimadas pelos pais; mulheres que apanham freqüentemente de seus maridos e insistem em dizer que caíram da escada; e tantas e tantas vezes, pessoas com as cabeças abertas pelos mais variados motivos, desde brigas domésticas até assaltos a mão armada. Gabriela achava que estava encarando bem a situação, já tinha dado plantões acima de 30 horas sem perder a razão. Um jovem de 20 anos bateu o carro num poste e entrou em coma, ele foi parar na ala de Gabriela, o médico estava pessimista, dizia ele que o garoto deveria ficar pelo menos cinco meses naquele estado, só depois disso e que poderiam dizer se ele sobreviveria ou não. O que foi peculiar é que ninguém vinha visitar o Glauco, este era o nome do rapaz, e Gabriela estava num duelo mental. Deveria ou não se envolver neste problema, mas já era tarde, já estava envolvida, começou a perguntar como ia o rapaz, como era um hospital público não havia problemas com despesas, mas com certeza ele não era um dos pacientes mais bem tratados por lá, a não ser por Gabriela que conversava com ele e lhe contava histórias sobre grandes homens que conseguiram atravessar dificuldades e conquistar seus objetivos: como Martin Luther King Jr.; Muhammad Ali; Nelson Mandela; Abraham Lincoln, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e por aí vai. Passaram-se alguns meses e findo o prazo estipulado pelos médicos, Gabriela foi a primeira a estar na sala do Dr. Flávio:
- E então Doutor, ele vai sobreviver?
- Quem?
- Ora, quem, o Glauco é claro.
- Ah sim, vai sim, é possível que ele acorde hoje mesmo.
O Coração de Gabriela quase lhe salta pela boca de tanta felicidade, foi direto ao quarto contar a novidade a seu paciente mais querido, mas qual não foi a sua surpresa que ao chegar no quarto, ele já não estava mais, aflita, perguntou ao zelador:
- Seu Amarante, você viu para onde levaram o Glauco?
- Ah, aquele gringo?
- Gringo, como assim?
- Bem, ele acordou agora pouco e começou a falar inglês, pelo menos eu acho que era inglês, o pessoal disse que ele estava bem, aí ele foi liberado.
- Liberado, mas ele acabou de acordar de um coma, quem o liberou?
- O Dr. Júlio.
Segundos depois:
- Doutor Júlio o senhor liberou o Glauco?
- Liberei sim, achei que ele estava em coma, mas na verdade ele só estava catatônico, como as funções dele estavam boas, não havia porque o segurar aqui, pra dizer a verdade é a primeira vez que vejo alguém ficar catatônico por tanto tempo.
- Ele realmente fala inglês?
- Sim, fala, ele é de Nova York, estava aqui de passagem, alugou um carro, não conhecia ninguém, por isso ninguém veio procurá-lo e aí acabou aqui por seu descuido e pela estranha doença dele.
- Minha nossa e ele perguntou de mim?
- Na verdade, perguntou sim, disse que enquanto estava catatônico ouviu uma mulher que parecia um anjo, lhe contar histórias, disse que nunca a havia visto antes, mas o problema é que ele não entendia o que você falava, sabe como é, ele é americano, fala muito pouco o português.
- Ele deixou o telefone?
- Você fala inglês?
- Um pouco.
- É, ele deixou sim.
Logo:
- Alô, eu quero falar com o Glauco.
- What?
- Ai, esqueci, I want to speak with Glauco (Eu quero falar com o Glauco).
- Yes. I am Glauco (Sim, Eu sou o Glauco).
- Sorry, but I not speak English very well (Lamento, mas não sei falar o ingles muito bem.).
- You are the nurse? (Você é a enfermeira?)
- O que?
- You take care of me, told me many stories. (Você cuidou de mim, me contou muitas estórias)
- Yes, more or less, when and how I can find you. (Sim, mais ou menos, quando e como posso encontrar você?)
- Well, you are free to a dinner. (Bem, você está livre para um jantar?)
- Sure, when? (Claro, quando?)
- Tonight. (Hoje à noite.)
- Where? (Onde?)
- You choose. (Você escolhe.)
- You know the Restaurante Sírio Libanês? (Você conhece o Restaurante Sírio Libanês?)
- Sure, at 8:00 p.m. (Claro, que tal às oito da noite)
- Perfect. (Perfeito.)
De início, foi muito difícil à comunicação, como puderam notar, mas o amor é universal e logo transpuseram esta barreira, Gabriela largou o hospital, foi viver em Nova York com Glauco, que era roteirista, com alguns espetáculos em cartaz na Brodway. Lá, Gabriela conheceu o mundo do teatro e se apaixonou, começou a dirigir peças e hoje, são conhecidos como "THE SUCESS COUPLE" (O CASAL SUCESSO).

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse conto tem um final bonito, mas com certeza o autor conhece muito o idioma inglês.
Fátima