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segunda-feira, maio 23, 2011

Jogo de Gato e Rato III

- Isto acaba hoje!
- Está falando com quem, Guaraci?
- Comigo mesma.
- Ah é, e por acaso você chama o seu alter-ego de Pauline?
- Acho que meus pensamentos estão escapando, Dona Joana. Mas, na verdade, Pauline está mais para nêmesis do que alter-ego.
- Entendo, então ela existe mesmo?
- Se existe, ela só existe para acabar com a minha existência.
- Você já sofreu algum atentado?
- Sabe Dona Joana, acho que não estou me fazendo entender hoje.
- Não se preocupe, Guaraci, eu tenho uma formação psicológica, faltaram 3 matérias para eu pegar o canudo e acabei desistindo por causa destas coisas da vida, eu sei ler entrelinhas.
- Tem certeza que quer ouvir esta história Dona Joana, ela é longa e cheia de acontecimentos bizarros.
- Minha filha, a gente chega numa idade em que qualquer briga de vizinho é mais divertida do que ficar em casa bordando, lavando roupa ou cozinhando, pode me contar.
Depois de deitado o rosário:
- Guaraci, que história maluca, esta Pauline é uma pedra no seu sapato.
- Por isto estou determinada a resolver isto de uma vez por todas.
- Está pensando em assassinato?
- Não, nada tão drástico assim, mas estou pensando em algo duradouro.
- Mas, pelo que você me contou, você também não é nenhuma Irmã Dulce, não é?
- Mas foi ela que começou.
- Mas aí parece papo de criança, não importa quem começou, importa é quem vai parar e perdoar.
- A senhora só pode estar brincando, perdoar uma mulher cujos atos mais simples foram fazer eu perder o amor da minha vida e ficar brigada com meus pais que não querem me ver nem pintada de ouro.
- Sei que é difícil, mas você fez muitas burradas contra ela também; talvez você possa resolver isto na sua cabeça ou adotar a solução dos covardes, fugir sem deixar rastros para assim evitar os confrontos, você não pode é ficar vivendo desta forma e nem cometer loucuras como tirá-la de circulação, isto vai provocar muitas suspeitas e dores de cabeça para você.
- Dona Joana, a senhora é um gênio, agora já sei o que devo fazer.
-É mesmo, às vezes não tenho ideia da minha eloquência, pois não sei como ajudei você a resolver o seu problema.
Naquele mesmo dia, em uma lanchonete no centro:
- Oi Pauline.
- Guaraci, então foi você que me chamou.
- Sim, queria falar com você.
- A minha secretária não soube dizer quem era você, disse que era uma amiga de infância. Bem, ela não estava errada.
- Como uma amizade como a nossa se transformou em ódio?
- A verdade é que isto é muito maior do que nós duas.
- É mesmo, por quê?
- Não posso fingir que não sei que a sua família é responsável pela minha ruína.
- Me explica isto que eu continuo não entendendo.
- É claro que você não sabe que meu pai trabalhava para o seu pai naquele fábrica de papel.
- Sim, o meu pai tinha uma fábrica de papel.
- Quando o seu pai despediu o meu pai, tivemos nossos problemas aumentados e muito.
- Mas despedir pessoas é comum no meio administrativo, principalmente se não servem mais aos interesses da empresa.
- Não tente me dizer que o meu pai era incompetente, porque ele ajudou o seu pai a erguer aquele império e nunca foi reconhecido por isto.
- Não me parece algo digno de criar ódio tão singular.
- A história não acabou, meu pai teve que contar para a minha mãe que estava internada com uma crise hipertensiva sobre a sua demissão e a sua crise se agravou e ela acabou morrendo, inconformado o meu pai saiu do hospital transtornado e sofreu um acidente e acabou morrendo também, neste dia fiquei órfã de pai e mãe por causa do seu pai, então não me diga para ser compreensiva com pessoas da sua família.
- Sinto muito que todos estes incidentes tenham ocorrido com a sua família, mas não tenho culpa da sua falta de sorte.
- Alguns traumas são difíceis de superar, por incrível que pareça, dizer isto me deixou mais aliviada.
- Então, resolvemos o nosso problema?
- Na verdade, não resolvemos coisa nenhuma, antes era por causa de todos estes incidentes, mas depois as coisas mudaram e começamos a nos afrontar de maneira irreversível e passei a odiá-la de verdade e não consigo mais vê-la como uma pessoa comum, você é minha inimiga e nunca vou considerá-la algo diferente disto, isto que está acontecendo hoje, não muda nada, das outras vezes que eu a encontrar, ainda seremos inimigas e farei de tudo para deixá-la de joelhos, não a deixarei em paz enquanto eu estiver viva, mesmo depois de estarmos cara a cara e de esclarecida a situação.
- Sinto muito que você pense desta forma, você poderia ser menos rancorosa e curar esta sua obsessão no divã de um analista, mas no momento que você me atacar eu estarei pronta, obrigada pelos esclarecimentos.
Passaram-se vinte anos e Guaraci nunca mais viu Pauline, mas continua andando desconfiada da própria sombra, sempre com a impressão de que será atacada a qualquer momento.

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