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terça-feira, junho 28, 2011

Entrevista Coletiva III

- Eu sou Mariana Villas Boas e você está assistindo ao "Entrevista Coletiva", esta noite quem nos privilegia com sua presença é o cineasta Jaéder Cordeiro de Araújo, antes de continuarmos quero dizer que você pode participar do programa, enviando sugestões de entrevistas, críticas e perguntas aos nossos entrevistados, garantimos que todos elas serão repassadas ao mesmo e que ele responderá assim que possível. Então Jaéder agora vamos falar da sua passagem pela Europa, do prêmio que ganhou e qualquer outro assunto do qual queira tratar. Começamos com o relato da sua experiência em ganhar o Prêmio da Mostra Internacional de Cinema de Manchester.
- Olha Mariana, quando recebi o convite para assistir ao prêmio, não achei que fosse concorrer, aliás nem tinha terminado de ler quando minha esposa que é muito mais minuciosa do que eu, me disse: Jaéder, você não foi convidado; eu disse: como assim, é o título da carta, está escrito convite; ela disse: sim, mas você foi indicado. Então eu percebi que poderia participar da festa e não ser somente um espectador. Há muitos anos, fiz um curso de inglês que, apesar do meu sonho de ser cineasta, jamais pensei que usaria o idioma em qualquer ocasião que fosse, por óbvio, eu estava enganado; depois das desgastantes horas de voo cheguei a cidade de Manchester, a poucas horas da entrega do prêmio, tive um problema que só brasileiro tem nos aeroportos internacionais, eu sei disso porque já conversei com outros brasileiros, se o nosso passaporte estiver velho, seu sobrenome não for inglês ou sua cidade natal não for conhecida, você está perdido, então viram que minha cidade natal era Jerumenha - PI, acharam que meu passaporte era falso e me levaram para uma sala, para a minha sorte eu falava inglês, fiquei sabendo do que se tratava e convidei-os a verificar no mapa do Brasil que minha cidade existia que era apenas um absoluto engano, mas antes de perceberem o erro, eles foram muito descorteses comigo e após solucionado o problema ficaram me pedindo desculpas e pedindo para que eu não me reportasse aos seus superiores, uma coisa horrorosa que achamos que não existe no primeiro mundo, enfim logo depois peguei um táxi e fui até o Manchester Bridgewater Hall onde ocorreria a premiação e novamente tive dificuldade para entrar no Teatro, porque eu era brasileiro, eu estava com a carta convite e novamente acharam que era falsa, eu que sempre ouvi falar que ingleses não usam identidade e que a palavra de um homem vale neste país, me decepcionei completamente, mas não se trata do país se trata da origem, eles não tem o menor respeito com nós brasileiros, já soube de casos de outros compatriotas que sequer conseguiram sair do aeroporto, finalmente cheguei a platéia e para a minha surpresa o "Cyrano Brasileiro" venceu o prêmio de melhor Diretor e lá fui eu, sem nenhum discurso preparado, falar sobre a emoção de ganhar o prêmio, tive muito vontade de relatar a má vontade com que me trataram até aquela ocasião, mas deixei para lá, afinal de contas me senti responsável por mudar a mentalidade daquele pessoal e disse fingidamente que foi a maior experiência da minha vida visitar aquela cidade.
- Nossa, Jaéder, eu estou muito surpresa com tudo o que você me disse sobre esta sua passagem pela Inglaterra, jamais imaginei que os ingleses agissem desta forma, mas o desfecho que você deu ao caso foi de muito bom senso e evitou criar caso com o descaso que tiveram. Jaéder foi um privilégio conversar com você, o nosso programa está chegando ao final, já fica de antemão o convite para que você retorne, trazendo seus novos projetos e falando do nosso cinema nacional que ainda perde em muitos aspectos para os cinemas de outros países, mas graças a pessoas como você que nós nos mantemos em pé e com a esperança de uma quantidade e qualidade maior das nossas produções cinematográficas para o futuro, o senhor terá alguns minutos para as suas considerações finais.
- Quero agradecer a você Mariana, a TV Âmbar por abrir este espaço para o meu trabalho, quero agradecer a todos aqueles que acreditaram em mim, a minha esposa, a minha filha e principalmente ao meu pai o seu Tomé de Araújo que sempre me incentivou a realizar meus sonhos, também quero agradecer aos elencos dos meus filmes por terem se empenhado e dado o máximo, pois sem bons atores, não temos nada, eles também são responsáveis pelos meus prêmios que são de todos nós. Quero também deixar um recado aos políticos e empresários. Invistam no cinema nacional, os senhores não vão se arrepender, ao contrário do que pensam, o povo brasileiro anseia por grandes histórias contadas pelo cinema nacional e vocês podem proporcionar isto a eles, então financiem projetos, sejam mecenas, criem leis de incentivo, valorizem o cinema nacional, porque o povo brasileiro tem muito valor e infelizmente poucos enxergam isto.
- Com estas palavras encerramos o "Entrevista Coletiva" desta noite, agradecemos a audiência e a paciência dos nossos telespectadores, tenham uma boa noite e até o nosso próximo programa.

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