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sábado, novembro 19, 2011

LHB - Caipora

Uma menina, Guivarra, nasceu numa tribo caiapó há muitos e muitos anos, era uma menina diferente, com poucos anos de idade já demonstrava poderes de cura, o pajé da aldeia não deu importância por algum tempo, até que ele próprio ficou doente e, diante de tantas tentativas e nenhum êxito, mandou chamar Guivarra. Quando a mesma chegou, ela, que já contava com seus 15 anos, disse não entender o que tinha o pajé, não parecia doença normal que ela já tivesse visto, porém olhando dentro de seus olhos percebeu o problema que era gravíssimo: O pajé tinha inveja de alguém muito próximo e isto estava se manifestando fisicamente e se ele não resolvesse logo o problema poderia até morrer.
Diante de tanta sabedoria o pajé se curvou diante de Guivarra e disse:
- Peço perdão, menina, não consigo evitar, o que você faz é serviço meu, não entendo como os nossos deuses permitiram que você nascesse com este poder e me negligenciaram este conhecimento, gostaria muito que você me ensinasse tudo o que sabe se for de sua vontade.
- Pajé, não tenho nada a ensinar, se estou lhe causando algum constrangimento, deixarei a tribo em breve, acho que meu destino está além destas matas, Tupã tem aparecido em sonho para mim, acho que ele quer que eu o siga, porque minha missão é muito maior do que curar nossos irmãos.
- Guivarra, se Tupã tem lhe visitado siga-o, eu mesmo duvidei quando fui chamado a cuidar dos nossos irmãos e minha vida se tornou um caos, somente quando aceitei o meu destino tudo fluiu como o ribeirão em seu leito.
- Obrigado pelo conselho, pajé, vou partir esta noite, se precisar de mim é só assobiar, eu ouvirei e retornarei para ajudá-lo.
- Obrigado, menina.
Guivarra, foi cumprir o seu destino. Em meio a floresta viu um caçador que estava prestes a assassinar uma família de onças-pintadas, a mãe e seus dois filhotes estavam encurralados. Guivarra foi na direção do caçador e disse:
- Pare!
- Quem é você?
- Eu sou Guivarra e ordeno que largue a sua arma!
- Você é uma índia, por acaso é dona da floresta também?
- Não, mas Tupã está comigo, não conseguirá me machucar.
- Vamos ver se este Tupã consegue desviar as minhas balas.
Mesmo com a mira certeira de quem já abateu centenas de animais o caçador não consegue acertar Guivarra, então mirou nas onças, mas diante de seus olhos elas desapareceram e para sua surpresa, as árvores não estavam nos mesmos lugares que estavam antes.
- Guivarra não é mesmo, que tipo de ser você é?
- Sou um ser que pratica a justiça - ela diz isto invisível ao olho do caçador que fica se virando constantemente tentando encontrar a origem da voz.
- Gostaria de saber por que você se importa com estes bichos? Eles não são nada, não significam nada, vivem para serem caçados por nós que somos seus superiores.
- Se você fosse superior entenderia que a família é a coisa mais importante do nosso planeta, obviamente você jamais entendeu o plano de Tupã, se você retornar aqui, eu retornarei e você não mais deixará estas matas.
Depois destas palavras o caçador se vê na entrada da floresta, onde teve a idéia de caçar pela primeira vez, com a lembrança da ameaça da feiticeira indígena, não mais retornou aquelas paragens.
O pajé da tribo caiapó havia morrido a muitos anos, mas tinha passado o recado de Guivarra a seus substitutos e um dia, o assovio ecoou pela floresta:
- Pajé, estou aqui como prometido.
- Você existe.
- Sim, você não é o Pajé Gunta.
- Não, eu sou o 3º substituto dele, o Hinor.
- Hinor, faz muito tempo que não venho aqui, não tinha idéia que eu podia viver tantos anos, o que você precisa?
- A nossa caça está sendo ameaçada pelo homem branco, estamos passando fome, porque o homem branco não respeita a família e a nossa caça está se extinguindo, quero que os expulse.
- Farei o que puder.
- Como devo chamá-la, infelizmente o seu nome se perdeu entre os sucessores daquele pajé.
- Hinor, o meu nome não é importante, mas se te satisfaz, adotarei um nome que vocês não esquecerão, um nome em homenagem a tribo: CAIPORA.
- Obrigado Caipora, espero que possa nos ajudar.
Caipora encontra o acampamento dos homens brancos e os vigia até o próxima caçada, quando o grupo se reúne para a próxima empreitada:
- Senhores, devo exigir que saiam da minha floresta!
- Quem está pedindo? Uma índia que nem porta armas?
- Sim, eu sou caipora e vocês já se esbaldaram com os meus animais, está na hora de deixá-los em paz.
- Como acha que poderá nos impedir.
- Filipe, acho que conheço esta índia.
- De onde George.
- Lembra da lenda do Alfredo.
- Aquele caçador que passou por aquele incidente a 200 anos?
- Sim, ele descreveu alguém parecido com esta índia.
- Como você mesmo disse, é apenas uma lenda.
- George, ninguém enfrenta um grupo de pessoas armadas com tal confiança.
- Certo, caipora, o meu amigo está com medo de você, mas eu não.
Diz isto e dispara, a bala transpassa caipora, mas não a fere, quando isto ocorre todos saem correndo, menos George:
- Que tipo de truque é este caipora?
- Faça o que eu disse, se você voltar ficará perdido para sempre na mata.
- Você deve gostar de algo, talvez possamos negociar.
- O que é isto que está saindo do seu bolso?
- É um pedaço de fumo, você gosta?
- Deixe-me experimentar.
Caipora faz um cigarro e diz:
- Parece bom, vamos fazer o seguinte se você me trouxer um pedaço disto todas as vezes que vier caçar poderá fazê-lo, mas com uma condição.
- Qual é?
- A de não matar fêmeas prenhas e nem filhotes, poderá abate apenas um animal por caçada, se desrespeitar o nosso acordo George, a minha promessa será mantida e você não mais retornará aos seus.
E como anteriormente havia ocorrido com aquele caçador há 200 anos, George se vê na entrada da floresta. Caipora caminhando pela mata encontra um javali, conversando com ele promete protegê-lo se o mesmo deixá-la andar em suas costas, oferta aceita de imediato.

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